Especialistas alertam sobre riscos da dengue em ano mais crítico da doença

27 de setembro de 2024, 13:38

Há oito meses, o Distrito Federal decretava situação de emergência na saúde para enfrentamento da dengue. De janeiro até a segunda semana de agosto de 2024, foram notificados 274.446 casos prováveis da doença no DF, dos quais 11.700 tinham sinais de alarme. Um total de 432 óbitos foi registrado nesse período. Durante todo o ano de 2023, morreram 19 pessoas de dengue.

O DF é a unidade federativa com maior coeficiente de incidência dessa arbovirose, segundo o Painel de Monitoramento do Ministério da Saúde. De acordo com a Secretaria de Saúde (SES-DF), novas tecnologias estão sendo incorporadas no combate ao mosquito aedes aegypti, e um novo sistema de informação está sendo implementado para monitoramento das ações do controle vetorial.

As 11 tendas de hidratação implementadas para atendimento exclusivo de pacientes com sintomas de dengue foram desmontadas em junho. A SES-DF orienta os pacientes para que sejam atendidos na Unidade Básica de Saúde (UBS) de referência mais próxima. Segundo a pasta, as ações de combate são contínuas. 

“Isso inclui visitas casa a casa, com o objetivo de eliminar focos do vetor, manejo ambiental, ações de mobilização e educação social, bloqueio de casos com uso de inseticidas, tratamentos de focos do vetor com uso de larvicidas e uso de armadilhas de monitoramento de infestação (ovitrampas)”, informou a secretaria, em nota.

Prevenção

Segundo o sanitarista e professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB) Jonas Brandt, é imprescindível fazer o controle do mosquito ainda na época de seca para evitar que, quando começarem as chuvas, tenham ovos do Aedes aegypti prontos para se desenvolverem. 

“Muitas vezes, apesar de o recipiente com água ter secado, os ovos do mosquito ficam na borda esperando o momento em que volta a ter água para eclodir, podendo iniciar a infestação do próximo verão mais cedo. Quanto mais ovos em possíveis recipientes forem retirados durante o inverno, mais o início da infestação, quando começam as chuvas, tende a se atrasar e aí não dá tempo de a epidemia crescer tanto”, explicou.

O especialista esclarece que, para haver uma prevenção eficaz, é preciso engajamento por parte da comunidade, campanhas educativas de comunicação e atuação estratégica por parte dos agentes de vigilância ambiental em saúde. 

“É preciso atuar para produzir inteligência estratégica. Quais bairros serão priorizados para visita, em quais regiões será trabalhado o processo educativo, em quais regiões será mais trabalhada a limpeza pública. Isso tudo deve ser trabalhado com uma inteligência epidemiológica, ou seja, análise dos dados para priorização das intervenções”, elencou Jonas Brandt.

Professor e pesquisador em ciências do comportamento da UnB, Breno Adaid afirma que, historicamente, ocorre uma oscilação positiva de casos com a chegada das chuvas, pelo favorecimento à proliferação do mosquito. “Só que acredito que os casos aumentem em uma proporção bem menos assustadora do que a que vimos no começo do ano”, opina.

Adaid explica que o surto da doença costuma ser bienal. “Como muita gente foi contaminada em 2024, isso dificulta que, pelo menos no início desse novo aumento, haja uma nova epidemia de dengue no DF, pois há um período de imunidade, que dura aproximadamente seis meses”, avalia. “Mas, nem por isso, temos que deixar de lado os cuidados básicos, que diminuem a circulação do vírus”, pondera.

Agentes de saúde

Peças-chave no combate à dengue, os agentes de vigilância ambiental em saúde (Avas) e Agentes Comunitários de Saúde (ACS) estão em déficit no Distrito Federal, de acordo com Jonas Brant. O ideal é que haja um ACS trabalhando para cada 750 habitantes. 

Considerando a população do DF, de 2.817.381 pessoas, são necessários 3.750 ACS ativos. No entanto, há somente 1.053. No caso dos Aavas, o ideal é que cada um acompanhe de 800 a 1 mil casas. Portanto, seriam necessários 2.410 Avas. O quadro atual da secretaria de saúde conta com 517.

Em outubro de 2023, chegou ao fim o contrato temporário de 1 mil agentes de saúde, sendo 500 Avas e 500 ACS. Logo depois, houve concurso para agentes efetivos com o objetivo de preencher as vagas. Em dezembro de 2023, o concurso foi homologado. “Eles chamaram 75 Avas em janeiro, outros 75 Avas e 115 ACS em fevereiro. Mas o número ainda está muito abaixo do necessário”, afirmou William Alencar, presidente da comissão dos agentes de saúde aprovados no último concurso.

Em março deste ano, o Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) recomendou a nomeação de 800 Avas e 2.300 ACS, mas a orientação não foi cumprida. No último dia 1º de agosto, o TCDF determinou que, em até 30 dias, a SES deve apresentar um cronograma de nomeações dos aprovados no último concurso para Avas e ACS. Segundo a Secretaria de Saúde, “a pasta entende a importância da fiscalização pelos órgãos de controle e adota medidas em cumprimento às suas recomendações”.

Vacinação

No DF, a vacinação contra a dengue começou a ser aplicada em fevereiro deste ano em crianças de 10 e 11 anos. Ao todo, 155.812 pessoas foram imunizadas no DF até agosto. Atualmente, o imunizante está disponível para a faixa etária de 10 a 14 anos. É preciso tomar duas doses, com intervalo de 90 dias entre elas. Se a pessoa já tiver sido infectada com a doença, é preciso aguardar seis meses para tomar a primeira dose.

Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

Com informações do Correio Braziliense

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