Concessão de benefícios por transtornos mentais aumenta 31,2% no DF

20 de fevereiro de 2024, 06:12

Subnotificado, o adoecimento mental devido a problemas decorrentes do trabalho impacta de forma significativa relações profissionais e pessoais. Em um contexto de estigmatização e de falta de apoio, trabalhadores de diferentes setores desenvolvem transtornos, por vezes, incapacitantes. 

Prova disso é que, em 2023, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) concedeu 8.095 benefícios por incapacidade temporária a profissionais do Distrito Federal diagnosticados com transtornos mentais e comportamentais, segundo o Ministério da Previdência Social. O órgão não divulgou as profissões com maior incidência de afastamentos por esse tipo de problema.

Desse montante, 352 são benefícios acidentários, isto é, aqueles que têm relação direta com o trabalho. No total, o número de concessões é 31,2% maior do que o contabilizado em 2022, quando o registro foi de 6.169. Entre os problemas mais recorrentes estão a depressão, a ansiedade e o transtorno de adaptação, definido como um estado de desequilíbrio causado por estresse identificável. 

Além disso, a síndrome de Burnout — distúrbio com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho — também é recorrente e foi classificada como doença ocupacional pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2022.

Para Wanderley Codo, professor, pesquisador e coordenador do Laboratório de Psicologia do Trabalho da Universidade de Brasília (UnB), qualquer profissão tem o potencial de adoecer o trabalhador. No entanto, o risco tende a ser maior naquelas em que há perda de controle sobre o próprio trabalho e muito envolvimento afetivo.

“Uma pessoa que trabalha com finanças, por exemplo, lida com muitas variáveis, como a instabilidade da bolsa de valores. Já os profissionais cujo trabalho se relaciona com o cuidado, como aqueles das áreas de educação e saúde, inevitavelmente desenvolvem vínculos que podem potencializar os transtornos emocionais”, explica.

Sob outra perspectiva, Fernanda Duarte, professora e doutora em psicologia social, do trabalho e das organizações, ressalta que fatores com maior tendência a adoecer trabalhadores estão mais vinculados aos estilos de gestão do que ao setor em que estão inseridos. “Estimar uma profissão que seja mais afetada a partir da estatística não nos dá uma medida justa, visto que geralmente os profissionais com maior acesso a serviços de saúde conseguem mais ‘reconhecimento’ e ‘legitimidade’ em seus relatos. Professores, profissionais de saúde, policiais e bombeiros, de fato, têm condições de trabalho complicadas e, muitas vezes, precárias, mas também têm maior acesso, o que torna mais provável o recebimento de um diagnóstico”, detalha.

Como exemplo, a professora cita aqueles que atuam com limpeza, geralmente terceirizados, que não têm o mesmo acesso que as profissões citadas anteriormente, e também adoecem. “Além disso, em função da divisão racial do trabalho, essas queixas costumam ser negligenciadas ou descredibilizadas”, completa.

Foto: Unsplash

Fonte: Correio Braziliense

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