Previsões sombrias com a iniciativa privada entrando na disputa pelas vacinas
O tenente reformado que, no momento e da maneira mais inadequada possível, ocupa a presidência da República já deu provas de que não está nem aí para as centenas de milhares de mortes de entes brasileiros em decorrência da Covid-19. Ele tem comprovado, a cada aparição irresponsável e inconsequente, que o seu exemplo está sendo seguido por uma legião crescente de seguidores sem noção do perigo.
Mergulhos no mar infestado de ignorantes são, recentemente, o retrato mais fiel da situação em que o País se adernou nos últimos meses, vendo se multiplicar o número de aglomerações festivas ao mesmo tempo em que explode o número de mortos pela doença transmitida pelo Coronavirus, hoje, chegando dolorosamente às 200 vidas ceifadas. A responsabilidade por essas mortes é compartilhada pelo governo, com sua atabalhoada atuação no combate à “gripezinha”, com um Ministério da Saúde omisso e um ministro sumido, e pelo presidente da República, com o seu exemplo sombrio e sua palavra desastrada, seguida pela malta bolsonarista.
A nova do ocupante do Planalto indica o caminho de trevas que o País poderá seguir nos próximos meses, sem plano de imunização, sem vacina, sequer sem seringas. Isto, no momento em que o mundo inteiro já avança nos seus programas de vacinações, independentemente do porte de sua economia ou do seu posicionamento político. Estão vacinando, célere e responsavelmente, dos Estados Unidos e Inglaterra à Letônia e à Costa Rica. De Rússia e Israel ao Vietnam e Romênia. Ao todo, são quase 55 países responsáveis por quase 15 milhões de doses de vacina aplicadas, até hoje.
O mundo todo está fazendo a sua parte. Menos o Brasil, essa vergonha planetária que floresceu pelas mãos de um governo irresponsavelmente eleito e absurdamente mantido no cargo.
A nova do presidente é um xadrez articulado para deixar a imunização dos brasileiros nas mãos da iniciativa privada. Sem garantir (e sem vontade de fazê-lo) a vacinação aos brasileiros atendidos pelo Sistema Único de Saúde, o governo prepara o terreno para a população ficar à mercê dos hospitais e clínicas particulares e dos caros e nem sempre eficazes planos de saúde. A entrada do capital na disputa pelas vacinas que deveriam priorizar os grupos de risco, os profissionais de setores essenciais como a saúde e a população carente, é uma imoralidade que vai jogar de vez na lata do lixo a imagem do Brasil.
Por fim, mas não menos preocupante, as especulações sobre o provável substituto do ministro da Saúde, o general Pazzuelo. Cotado para assumir o cargo, o líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros é o homem dos planos de saúde no parlamento brasileiro. Ele, que exerceu o cargo no governo Temer, sempre foi financiado (quando a lei permitia) por empresas do setor. Como na eleição de 2014, quando recebeu R$ 100 mil do empresário Elon Gomes de Almeida, presidente do Grupo Aliança.
No momento em que o governo acena para um “salve-se quem puder” na imunização dos brasileiros e o setor privado ameaça dominar o “mercado da vacina” contra o Corona vírus, a possibilidade de termos, de novo, um ministro da Saúde vinculado a planos de saúde é terrivelmente soturna.
Caminhamos para o imponderável. Vacina pra quem pode, caixão para quem se sacode.