Infração de Pazuello compromete o Exército. Se o Exército nada fizer

24 de maio de 2021, 11:12

Caso dê crédito à “desculpa” do general Eduardo Pazuello, esfarrapada e dita não por ele, mas pelo vice-presidente e seu colega de farda Hamilton Mourão, o Exército Brasileiro estará comprometendo a sua credibilidade e o seu respeito. Caso não puna exemplarmente o ex-ministro da Saúde pelo papel ridículo e (à luz do regimento) criminoso, a Arma estará passando ao País que desiste da democracia e se entrega, de vez, nos braços do autoritarismo negacionista e de uma extrema direita de matiz fascista, ambos fielmente traduzidos pelo bolsonarismo. Por menos que se goste do Exército, ninguém torce por isto.

A presença de Pazuello no ato político protagonizado pelo presidente da República, ao final de uma semana em que mentiu descaradamente na CPI da Covid-19, confirma tudo o que se diz do general. Uma presença menor, rasteira, inconsequente e inimiga da verdade. Um representante fidedigno de uma ala das Forças Armadas que se agasalhou no governo federal, comprometendo a imagem de toda uma instituição. Uma situação que assusta o País e deixa em estado de alerta todos os poderes da Nação, inclusive o Executivo, mal representado hoje pelo governo em cujo colo o País caiu.

Pazuello cometeu uma infração grave. Na condição de militar da ativa, e isto já foi sobejamente explicado, ele está impedido de participar de qualquer manifestação política. Pode, com isto, sofrer punição e até ser preso, caso a interpretação do Exército se dê restritamente à luz do seu regimento e da Lei.

A (má) qualidade do ato que recebeu o general, mesmo vestido a paisano, não conta como agravante, mas bem que deveria. Com seu discurso enrolado e subserviente, e seu sorriso invariavelmente parvo no rosto, ele foi cúmplice de nove crimes cometidos pelo seu ex-patrão e por sua entourage: falta do uso de máscara, aglomeração, infração de medida sanitária, uso de capacete incorreto (na moto), placas de moto escondidas, falta do uso de cinto de segurança (no carro), corpo para fora do carro, manifestação de militar da ativa, defesa de intervenção militar (fonte: O Globo). Detalhe para a reveladora “placa de moto escondida”. Escondida por que?

Tentando descrever o problema disciplinar criado, Hamilton Mourão disse que o rumo do Caso Pazuello é problema da Instituição. “É provável que seja punido. É uma questão interna do Exército. Ele também pode pedir transferência para reserva e aí atenuar o problema”, afirmou o vice-presidente, admitindo o constrangimento gerado pelo tresloucado Pazuello no seio da cúpula militar.

Mas, como que passando pano, Mourão amenizou a situação de Pazuello que, segundo ele, se arrependeu e reconheceu a derrapada: “(Pazuello) já entrou em contato com o comandante informando ali, colocando a cabeça dele no cutelo, entendendo que ele cometeu um erro”.

É pouco para se fazer de conta que não houve nada de mais. Houve uma infração de extrema gravidade. Um general da ativa participou de um ato onde se pregou, entre outras coisas, o fim da democracia, retratado pela defesa de uma intervenção militar no País. Ainda mais, tendo a patacoada ocorrido dias depois de o ex-ministro da Saúde ter feito o papelão que fez na CPI que, agora, deve chamá-lo para um novo depoimento. Desta vez, sem o arrego em forma de habeas corpus  que o militar consegui no Supremo Tribunal Federal. Agora, ele vai ter que falar.

Escrito por:

Jornalista e compositor, com passagem por veículos como o Jornal do Commercio (PE) e as sucursais de O Globo, Jornal do Brasil e Abril/Veja. Teve colunas no JC, onde foi editor de Política e Informática, além de Gerente Executivo do portal do Sistema JC. Foi comentarista político da TV Globo NE e correspondente da Rádio suíça Internacional no Recife. Pelo JC, ganhou 3 Prêmios Esso. Como publicitário e assessor, atuou em diversas campanhas políticas, desde 1982. Foi secretário municipal de Comunicação. Como escritor tem dois livros publicados: "Bodas de Frevo", com a trajetória do grupo musical Quinteto Violado; e "Onde Está Meu Filho?", em coautoria, com a saga da família de Fernando Santa Cruz, preso e desaparecido político desde 1973. Como compositor tem dois CDs autorais e possui gravações em outros 27 CDs, além de um acervo de mais de 360 canções com mais de 40 músicos parceiros.

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