Foto: Reprodução/X/@RomeuZema

Governadores dão as costas à Constituição e ao Código Penal

7 de abril de 2025, 13:08

Triste país que tem no cenário político oito governadores de costas para a Constituição. Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo; Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina; Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás; Wilson Lima (União Brasil), do Amazonas; Ratinho Júnior (PSD), do Paraná; e Mauro Mendes (União Brasil), do Mato Grosso. E, mais que isso, não se importam de ostentar que estão nos braços da ultradireita, onde a palavra de ordem é “anistia”. E para quem? Para os que engendraram um plano de golpe de Estado, que compreendia a morte do presidente democraticamente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, o seu vice, Geraldo Alckmin e do então presidente do Superior Tribunal Eleitoral (TSE), também ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.

Não fosse pouco, a reivindicação que fazem pede a liberdade de alguém tornado inelegível pela Justiça brasileira. É preciso lembrar que o projeto desses senhores era instituir no Brasil uma ditadura nos moldes clássicos, – com intervenção militar -, e, pior: o empoderamento do comando de um gabinete responsável pela criação de um campo de concentração para os que se rebelassem contra a chegada deles ao poder. 

Para os que se horrorizaram – com toda a razão -, com as cenas do filme “Ainda Estou Aqui”, retratando o auge das torturas e sequestros na ditadura (1964/1985) -, pensem o quanto seria mais rápido a instalação do terror com essa gente no comando. O general Walter Braga Netto e o general Augusto Heleno, são conhecedores de todas as técnicas que naquela época precisaram ser aprendidas, com instrutores vindos de fora para implementar o “aparelho” no país.

Segundo pesquisa Genial/Quaest – divulgadas neste domingo (06/04), 70% dos brasileiros sabem que o ex-presidente e os seus cúmplices foram tornados réus pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Desses, 46% acreditam que Bolsonaro será preso, contra 43% que são céticos quanto à providência de prendê-lo. 

Esses senhores governam estados que se posicionaram na pesquisa, sobre a participação do ex-presidente no golpe de 2022/2023. Se melhor se informassem, saberiam que entre os entrevistados por região, embora a maioria que considera que o julgamento da Suprema Corte foi justo está no Nordeste, reduto eleitoral petista, com 61% corroborando com os ministros, em seus estados há uma massa ciente do que houve e se posicionando a favor da decisão do STF. Por exemplo, nas demais regiões, o índice ficou entre 44% no Sul, e 51% no Sudeste – com 50% dos entrevistados das regiões Centro-Oeste e Norte.

A pesquisa mostra também que a opinião dos entrevistados não variou acerca da participação ou não de Bolsonaro na tentativa de golpe de Estado, no final de 2022. Antes, 48% acreditavam que a trama golpista teve o envolvimento do ex-presidente, e agora são 49%. Portanto, além desses governadores se colocarem à margem da lei, quando sobem no carro de som para pedir “anistia” para o inelegível (sim, é disso que se trata), dão as costas para a Justiça a o Código Penal, onde os artigos 359-L e 359-M, preveem que são crimes inafiançáveis, graves, atentar contra o Estado de Direito e tentar por ação violenta depor um governo democraticamente eleito.

O recado que esses oito governadores passam para os seus eleitores é o de que pouco se importam com a opinião deles, que entendem e condenam os atos de 2022/2023, apoiam o trabalho do Judiciário e querem punição para os que lideraram planos golpistas. 

Se não pela Constituição Federal ou pelo Código Penal, pelo menos em respeito à opinião dos que neles votaram, deveriam se abster de ostentar de cima de um carro de som, ao lado de Bolsonaro, as suas figuras públicas, em ato ao arrepio da Lei.

Escrito por:

Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora-pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada", membro do Jornalistas pela Democracia