Foto: REUTERS/Washington Alves

Este ano não vai ser igual àquele que passou

31 de março de 2025, 19:05

Parodiando a marchinha de 1968, de autoria de H. Silva e Paulo Sete, “este ano não vai ser igual àquele que passou”…

Este ano não vai ser igual àquele que passou… Eu não lembrei, você também não lembrou! A manifestação que preparei foi cancelada! A sua também foi esvaziada! Mas neste ano, meu bem, tá combinado…

Então está combinado. Até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que anda pé ante pé, quando o assunto é “militares”, que decidiu não bulir com o “monstro” da caserna – ou seria da caverna? – nos 60 anos do golpe de 1964, ano passado, saiu do seu estado constante de “deixa disso”, para se pronunciar sobre a importância da democracia, uma pauta que se impõe pelas consequências do golpe tentado de 2022. 

Não seria ele, o alvo do plano “Punhal Verde e Amarelo”, a ignorar que o país não tem outro assunto senão “golpe”. O julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), onde a primeira turma votou unânime por aceitar a denúncia de Paulo Gonet contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, colocou o assunto nas ruas. Gonet fez constar na sua denúncia que Bolsonaro foi avalista do plano para inviabilizar a chegada de Lula ao poder, e, agora se sabe, até a sua vida. O Procurador Geral da República escreveu: “Bolsonaro assentiu”.

Ou seja, aceitou a proposta apresentada em visita ao palácio da Alvorada, pelo general duas estrelas, Mário Fernandes, de matar o presidente eleito, o seu vice e o ministro do STF, Alexandre de Moraes, acrescentando o comentário de que até o dia 31 (de dezembro, antes da posse de Lula), eles teriam aval para agir. Está lá, na farta documentação que recheia o processo sobre o 8 de janeiro e os seus preparos.

Assim sendo, Lula veio a público – às favas com os conselhos do ministro da Defesa (dele próprio), José Múcio -, para destacar a data, 61 anos depois da instalação do arbítrio e do horror, nesse país, o Brasil.

“Hoje é dia de lembrarmos da importância da democracia, dos direitos humanos e da soberania do povo para escolher nas urnas seus líderes e traçar o seu futuro. E de seguirmos fortes e unidos em sua defesa contra as ameaças autoritárias que, infelizmente, ainda insistem em sobreviver”, escreveu Lula…. 

Sobre o último golpe (ops, no Brasil essa afirmação pode caducar), melhor dizer: sobre o golpe de 2022, há muito para ser esmiuçado, a despeito do racha prenunciado pelo ministro Fux, em quem eles confiam, mas nós não. 

Dessa vez, com a ajuda da tecnologia e o nosso lombo calejado, estamos na luta, estamos atentos, “para sobreviver, para sobreviver”, buscando versos de outro sucesso, desta vez do Ivan Lins.

Só para lembrar as sábias e verdadeiras palavras do presidente Lula, a ameaça autoritária está aí, sim. Sob a forma do discurso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, por exemplo, que do alto do carro de som da fracassada manifestação de Bolsonaro em Copacabana, negou a existência do golpe que o STF grifou, registrou e vai punir. 

O que Tarcísio fez foi apologia ao crime, mas a convocação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que sigamos na “defesa contra as ameaças autoritárias”, não teve eco no Congresso. Lá, onde Bolsonaro fez apologia a um torturador, nenhum senador ou parlamentar moveu um dedinho mínimo para processá-lo pelo crime previsto no nosso Código. E assim, o deputado do baixíssimo clero virou presidente.

Porque ali, o código que impera é o das emendas, (outro produto pronto e acabado do golpe à democracia, do ex-presidente). Porque ali ninguém tem o sentimento de pátria tatuado na alma. O que se tem ali é o sentimento do: “farinha pouca, meu pirão primeiro”. E se alguém não parar Tarcísio de Freitas, o queridinho de nove entre 10 comentaristas políticos, será ele a suceder Bolsonaro e suas ideias exóticas. 

A mídia errou a mão em 2018, ao subtrair da cédula o candidato praticamente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e nos legou seis anos de trevas. Agora, ao não denunciar Tarcísio como o ultradireitista que ele é, e não prestar a atenção aos sucessivos crimes que vem cometendo – desde a campanha, aliás, passando pelo dia da eleição, quando acusou Boulos de estar mancomunado com o PCC, sem provas -, será ele, a subir a rampa e novamente apagar a luz do país. Vamos, senhores parlamentares, o que estão esperando para tomar uma providência? A promessa de gordas emendas, ou carguinhos?

Escrito por:

Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora-pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada", membro do Jornalistas pela Democracia

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