A eleição americana espera William Waack, oito anos depois

8 de junho de 2024, 12:03

O Estadão não vai mandar William Waack para cobrir a eleição americana? Se decidir enviar sua estrela, antes deve fazer uma recomendação para que o jornalista não volte a se posicionar nas proximidades da Casa Branca, onde às vezes os motoristas passam buzinando.

Na cobertura da eleição de 2016 para a Globo, Waack estava defronte ao prédio, quando iria fazer uma entrada ao vivo ao lado do colega Paulo Sotero.

É quando um carro passa e o motorista buzina. Waack se irrita com o barulho e se dá o seguinte diálogo, que precisava apenas de uma buzina para ser acionado:

Waack (virando-se para a rua, que está às suas costas): Tá buzinando por quê? Ô seu merda do cacete! Deve ser um… Não vou nem falar porque eu sei quem é, né?

(Sotero se aproxima para ouvir.)

Waack: Preto, né?

(Os dois riem.)

Waack: Fazer isso é coisa de preto.

Sotero: Sim.

Waack: Com certeza.

(Sotero percebe que os dois podem ter extrapolado e fecha a cara.)

O ocupante da Casa Branca naquele novembro de 2016 era o presidente negro Barack Obama. A fala antes da entrada do jornalista foi gravada nos estúdios. Waack foi demitido pela Globo, que ainda tentou segurar o sujeito, mas não suportou as reações.

O vídeo foi divulgado um ano depois do fato na internet, por ter sido vazado por dois funcionários negros, da própria Globo, o operador de VT Diego Pereira e o designer gráfico Robson Cordeiro.

Pereira e Cordeiro fizeram o que a grande maioria dos indignados não consegue fazer, por falta de suporte de colegas e do entorno a uma justa indignação.

Por causa da frustração dos que buscam e não conseguem apoio, os racistas vão prosperando e ficando impunes. Inclusive os racistas celebridades.

Mas, mesmo denunciado e demitido, há seis anos o indivíduo mandado embora pelo comentário racista dita regras de conduta no Estadão, que o contratou e o transformou num dos jornalistas preferidos dos fascistas brasileiros.

Em artigo na Folha, depois de dispensado por justa causa, um mês após a divulgação da imagem, Waack fez um pedido de desculpas meia-boca.

Disse que aquela fala havia sido um “gracejo circunstanciado” e definiu os que o criticaram como “canalhas do linchamento”.

O certo é que a Globo o mandou embora por causa do comentário racista. Mas a rede de proteção do Estadão estava pronta para acolher o sacrificado, como muitos órgãos da imprensa faziam na ditadura.

Por que lembrar disso agora? Porque logo haverá eleição de novo nos Estados Unidos e porque jornalismo também é memória. Racistas não podem cair no esquecimento como racistas, sendo racistas estruturais ou circunstanciados.

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O mesmo jornalista teve mais um gesto preconceituoso, na CNN, em agosto do ano passado. Compartilho o texto do jornal O Liberal, de Belém do Pará. Link abaixo:


https://www.oliberal.com/brasil/jornalista-william-waack-diz-que-

Escrito por:

Moisés Mendes é jornalista de Porto Alegre e escreve no blogdomoisesmendes. É autor de ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim). Foi editor de economia, editor especial e colunista de Zero Hora.

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