Da água de côco na veia à imunidade praiana, o besteirol de Bolsonaro
As lives do presidente da República têm dado aos brasileiros momentos impagáveis todas as quintas-feiras às 19 horas – e o que se vê ali seria cômico se não fosse tão trágico. A de ontem, ao lado do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, teve claramente o objetivo de fazer uma investida contra o discurso dominante na mídia e na sociedade de que o governo vem sendo incompetente no tratamento da pandemia e que está atrasado na vacinação da população contra a Covid-19.
Não, não está atrasado, disseram Bolsonaro e Pazuello, pois o número de doses já apllcadas em outros países é “pífio”. Adivinhem de quem é a culpa por essa percepção de incompetência? Claro, da imprensa. A decisão que desautorizou o ministro quando quis comprar as primeiras doses da “chinesa” Coronavac, em outubro, nunca existiu, a julgar pela narrativa delirante do presidente. Mas, ao lado do constrangido ministro, Bolsonaro continuou desfazendo da vacina, que segundo ele ainda é “experimental”. Então, porque estão gastando bilhões nela?
O espetáculo chega ao nível do nonsense total quando o presidente volta a fazer comentários sobre a doença. Todo mudou ouviu quando ele a chamou de “gripezinha”, mas, pela explicação de ontem, Bolsonaro só usou a palavra para se referir a si mesmo: e é verdade, para ele foi uma “gripezinha”, dado seu passado de atleta. E ele acredita piamente que os atletas se saem muito melhor quando contaminados: “Vocês já viram algum jogados da primeira divisão do Flamengo morrendo de Covid? “, exemplifica ele
Bolsonaro negou ter promovido aglomerações arriscadas na praia do Guarujá neste fim de ano, defendendo a tese de que a ida à praia é positiva. Segundo o presidente, a população que mora em cidades praianas tem tido uma reação muito melhor ao vírus, assim como as pessoas que tomam vitamina D. “A ciência ainda não provou, mas vai provar”, diz.
O general de divisão que é ministro da Saúde concorda, e aconselha as pessoas maiores de 50 anos a “praticar exercício físicos e ter uma boa alimentação” para enfrentar a pandemia. Será que ele tem ideia de quantos brasileiros podem fazer isso em meio à crise da economia e ao desemprego? Boa parte da preocupação brasileira já começa a se preocupar apenas em ter a refeição seguinte, balanceada ou não”.
Ria se puder. Em sua incursão por temas médicos em situações de emergência, Bolsonaro lembra de soldados que estariam à morte em locais distantes na Grande Guerra e que, na falta de sangue, receberam transfusões de água de côco. Tudo isso para dizer que se trata de uma bebida inofensiva, que pode ser usada por todos.
Enquanto presidente, Bolsonaro é um excelente astro de programas humorísticos de besteirol. E a tragédia do Brasil é que o espetáculo mostra direitinho que esse grande comediante está no lugar errado, a presidência da República.
Não perca. Todas às quintas, às 19 horas, no FaceBook. E a performance tende a melhorar na medida em que, como ocorreu esta semana, as pesquisas forem apontando queda na aprovação presidencial. É quando Bolsonaro entra no modo desespero e dá o melhor de si no plano artístico.